sábado, 27 de dezembro de 2008

Você percebe que os tempos mudaram ² quando....

...você desiste de dormir a tarde no seu dia de folga porque sua mãe te acorda com tiros.



De Tomb Raider.



Vindos da TV com o volume SUPER alto.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Memórias...neutras ou...

Um opressor só vai te oprimir se você permitir.

Vai parecer uma história bobinha. Tão boba que nem sei se chegarei ao final desse post.
E daí tinha aquela menina, do tempo em que eu cursava o segundo ano do Ensino Médio.Ela havia chegado alguns meses depois do início do ano letivo.Vinha "das colônias".
Uma das coisas que mais chamava a atenção nela, além de sua sempre presente CARRANCA era seu tamanho, uma vez que enquanto a média de altura das meninas da sala parava pelo 1,75 no máximo, essa menina, que chamarei aqui de M., devia ter bem seus 1,85, fora o porte avantajado.
Uma atitude que condeno é bulying, e pode-se dizer que de alguma forma M., no começo de sua socialização na escola, sofreu um pouco disso principalmente por parte dos meninos. Talvez por seu tamanho avantajado, talvez pela sua cara sempre fechada, talvez pelos seus trejeitos interioranos. A questão é que aos 16 e 17 anos, supostamente adolescentes deviam ter maturidade, mas não têm.
Agora, uma coisa é aquela pessoa tímida, acuada, com dificuldades de socialização ser vítima de bulying.Chega a ser uma covardia. Outra coisa é uma pessoa pedir por isso através do seu comportamento. A questão não se tratava mais dos trejeitos desengonçados de M., mas a falta de senso de rídiculo que aquele bebê gigante de 17 tinha. Uma necessidade desesperada de ser "pop". Se sobressair na sala. Ser o gás da Coca. Impor a presença. E desafiar professores. O pobre do Mr. Goose ( espero que ninguém entenda esse trocadilho feito pra preservar a identidade do homem) que o diga após quase ter sentido as mãos esmagadoras de M., em seu fino pescoço, ato decorrente de uma prova zerada.
O fato é M. percebeu logo que a maioria do povo ali tinha medo dela. Porque ela era grande, mau encarada e não tinha medo de advertências ou suspensões. Os meninos e meninas a provocavam eventualmente, mas só se estivessem bem longe e pudessem correr.Ela nunca havia batido em ninguém até o momento, mas ninguém parecia querer conferir se ela faria isso mesmo.
Eu, pessoalmente, nunca tive medo dela, mesmo ela tendo o dobro do meu tamanho. Nossa convicência sempre foi neutra, mal nos falávamos.O mesmo não se podia dizer da convivência dela e da loirinha, minha melhor amiga. B., é pessoa com uma tendência a mexer com os outros, diferente de quando era criança.Há três anos, assim como hoje, ela não pode ver uma pessoa nova sem parar pra entender essa pessoa e poder se divertir um pouco descobrindo algum ponto pra zoar. Com M. não foi diferente e logo o humor nada favorável dessa menina fez com que minha amiga B. resolvesse puxar conversa com ela e desmontar um pouco daquele mito.
Para M., conversa não era bem vinda. Isso bastou pra que isso instalasse um clima de rixas diárias entre ambas, o que B. levava na mais completa zoação e M., na mais completa seriedade. Não foram uma nem duas vezes em que ambas passaram pela escola toda numa perseguição maluca como duas crianças do ensino primário.
Isso se prolongou por mais de um ano e meio, no qual B. achou uma parceira para sua batalha épica contra M., uma outra amiga minha, a A.
E um dia B., que tinha como costume fazer caricaturas de pessoas da sala, teve a bela idéia de fazer uma caricatura de nossa colega mal encarada, o que não foi nada bem recebido pela mesma.
Sucedeu que desde as 8 da manhã até 11:30 elas ainda estavam se encrencando, M. afirmando categoricamente que dessa vez arrebentaria B. na saída.
Na hora da saída foi um caso crítico. Comos seguíamos por umas duas quadras juntas na hora de ir embora, eu sempre acompanhava B. Naquele dia ela foi se esgueirando pelos caminhos menos movimentados da escola, até sair na rua. E dar de cara com M. no portão. Ambas arregalaram os olhos, B. queria correr mas não podia, devido a aglomeração de pessoas. Então optou por andar "calmamente", embora qualquer um pudesse dizer que ela estava muito tensa.
Logo M. apareceu com sua conhecida carranca e punhos cerrados.

- Fugindo?
- Indo embora.

E eu ali do lado, com a maior cara de -.-''
Aquilo vinha se tornando entendiante, e estava ficando realmente dificil de aguentar tamanha frescura.
Resmunguei algo como "Que coisa ridícula", o que foi o suficiente pra voltar a fúria de M. para mim.

- E você quer apanhar também?
Ela perguntou levantando o punho em sinal de ameaça.
Meus outros colegas teriam prontamente dito que não, se esquivado, ou fugido.Por que eles tinham medo dela.Eles deixaram ela se tornar o que ela havia se tornado. O medo deles eram muito maior que a coragem dela.

-Por que você não deixa de ser um bebezão ridículo e cresce?Você alimenta a ilusão que todos têm medo de você, faz tudo pra chamar a atenção, acha que manda nessa porcaria de escola. Amadureça menina. - Eu disse e olhei pra ela por alguns segundos.

Havia algumas pessoas da minha sala em volta que deram alguns gritos não inteligíveis e assobios ridicularizando-a.
Ela me encarou, claramente não sabendo o que dizer. Eu sabia que M. nunca bateira em ninguém. Boa parte daquele pessoal também sabia, mas haviam esquecido desse detalhe porque a racionalidade havia sumido claramente.
Eu segui meu caminho acompanhada de B. sem parar pra saber de M. diria algo ou ficaria parada perto daquele muro por mais tempo.
Não sei o que se sucedeu depois, porque fui embora.
Mas no dia seguinte M. não parecia mais tão mal encarada.O tempo passou.O ano acabou.Nunca mais a vi.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Memórias...não felizes

E daí tinha aquela menina, quando eu estava no segundo ano do Ensino Médio.A chamarei aqui de J.Não éramos o que pudesse chamar de amigas.Conversávamos nas matanças de aula de educação física.Tirávamos sarro juntas de uma certa figura da sala. Éramos apenas colegas de classe.
Na verdade ela era bastante amiga de uma amiga minha.Do tipo que vai na casa uma da outra todo dia.E provavelmente foi dali que lembro de tê-la conhecido.
Vivia machucada.A mãe era doente, mas era a única que mantinha alguma ordem familiar.Um dos irmãos era um trabalhador honesto, outro estava a caminho da decadência e o terceiro já havia caído no envolvimento com traficantes.Mas ela sempre estivera de cara limpa. A J. que eu conhecia, apesar da doença da mãe, apesar de passar a maior parte do ano com uma perna engessada, normalmente tinha um sorriso.Um sorriso estranho, meio triste, mas um sorriso, porque ali, no colégio, ela era apenas uma menina normal que tinha seu grupo de amigas.
No ano seguinte ainda estudávamos juntas. Mais ou menos no meio daquele ano, a mãe de J. havia falecido. Lembro-me de ficar espantada com a frieza com que J. falava do assunto, raramente demonstrando alguma emoção. A vida sem dúvida estava deixando algumas marcas profundas nela.
Pouco tempo depois ela começara a namorar com um amigo de um dos irmãos. Provavelmente do irmão mais problemático, porque até onde fiquei sabendo, o rapaz não era dos melhores, mas ainda assim parecia ser a única fonte da rara felicidade de J.
No final do ano ficamos sabendo que ela teve de começar a trabalhar para poder pagar as dívidas que o irmão tinha com traficantes, ou melhor, que OS irmãos tinham, porque aquele que estava a caminho da decadência, já havia chegado nela.
O ano acabou.Eu fui para faculdade, e perdi contato com a maior parte das pessoas com quem estudei no ensino médio - salvo pelas minhas amigas verdadeiras - .Eu nunca mais soube o que havia acontecido com J. mas esperava que as coisas se ajeitassem e ela pudesse achar algum rapaz que a fizesse feliz.
Semana passada, eu já de férias, fiquei uma tarde toda em casa.A mulher que trabalha aqui como diarista tem um caráter muito digno, exceto pelo fato de ser um jornal falado. Por ela é possível saber de todos os babados da cidade, mesmo não se colocando o pé na rua. Mas além dos babados, há também as notícias tristes. Nesse diz ela veio contando que a filha da velha D. estava "enjaulada" por porte de drogas e prostituição. Levou alguns minutos, para que eu, chocada, ligasse os fatos e percebesse que a filha da velha D. era na verdade minha ex-colega J.
Presa. Por porte de drogas.E Prostituição.
Oh Deus, para onde foram os sonhos que os adolescentes da minha geração alimentaram um dia?
É triste ver o quão perigoso pode se tornar o livre-arbítrio e o quão cruel pode ser o Destino.

domingo, 21 de dezembro de 2008

As figuras mitológicas de um povo...

Morar numa cidade pequena é interessante.Tirando o fato de todo mundo saber - e se importar - com a vida de todo mundo, o meio social no qual se está inserido tem algumas particularidades quase mitológicas.Algumas, atravessam décadas se fazendo presentes nas vidas de muitas gerações.

Desde os meus primeiros anos de vida, ouço falar e vejo uma figura bastante conhecida pelo povo da minha cidade.Um senhor de apelido Edite, tendo como verdadeiro nome, Edil Johnson.

Quando eu era criança, minha mãe me assustava dizendo que ele trabalhava para o velho do saco e pegava crianças que saiam na rua. Os anos passaram e a mentira contada havia perdido o efeito. Entendi que Edite era apenas um homem que há muito havia saído do mundo real. Munido de uma boina ou eventualmente um boné do avesso, uma mochila que ás vezes contém uma frigideira pendurada, atravessa a cidade interminávelmente em busca de...O que é que ele busca mesmo? Difícil alguém definir. Talvez busque os seus sonhos perdidos, enquanto pára de loja em loja e conversa com as pessoas na esperança de ganhar "algum".
Embora peça dinheiro sempre que pode, Edite não é um mendigo. Recebe sua aposentadoria, alguns dizem que permitem que ele durma na cadeia, e embora suas roupas sejam normalmente velhas, ele nunca está vestindo farrapos. Talvez parar as pessoas nas ruas seja apenas um hobby, uma maneira de ele ganhar alguma atenção. Se não ganha dinheiro, continua de bom humor. Eu, como cidadã - ainda - não motorizada, diversas vezes já passei por tal situação.

-Opa, tem algum troco aí pra ajudar com a comida?
-Ih, hoje a coisa tá feia.
-Tá feia por toda parte 'mermo'.Manda um abraço pra família.

Ás vezes ele nem dinheiro pede. Contenta-se apenas em mandar um abraço pra família, mesmo não fazendo idéia de quem a família seja.
Hoje ele deve estar com quase 80 anos, e ainda atravessa a cidade andando. As versões de como ele acabou desse jeito são diversas. A única verdade garantida até hoje é de que ele foi um homem rico, muito bem apessoado que trabalhava para o Industrial Kurt Gustavo Schlumberger. Meu avô tinha uma foto dele quando jovem, em companhia de duas moças. Sujeito charmoso que fazia sucesso com as mulheres. Hoje...personificação da decadência.
Como decaiu ninguém parece realmente saber. Uns dizem que esteve na guerra e os traumas sofridos lá lhe tiraram a lucidez. Outros, que se embebedou numa festa, e sendo isso um absurdo pzra época, os policiais lhe bateram tanto na cabeça que levaram embora seu juízo. E ainda há a terceira versão de que teria se apaixonado pela sobrinha de Kurt, e não tendo o amor correspondido, abandonou o mundo real partindo para a esfera do sonho e da imaginação, autodenomidando-se "Capitão Vermelho". Apesar de desprovido de sua lucidez, nunca desrespeitou ninguém. O caminho dele é a conversa, povoada de conspirações políticas, eras de mudanças e discos voadores.

Um Dom Quixote prudentopolitano que tem passado décadas perambulando pelas ruas e observando pessoas. Observando. Observando. Observando.
E hoje, quando ouço alguém cheio de piedade por sua suposta loucura, exclamar "Pobre Edite", fico imaginando se ele não está na verdade mais lúcido e em melhor juízo do que todo o resto da cidade.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Você percebe que os tempos mudaram...

quando desiste de dormir até as 10 porque sua MÃE tá ouvindo HEAVY METAL na sala.