sexta-feira, 2 de abril de 2010

Os dias curtos de inverno...

Era o ano de 1998...

Há anos meus tios e primos que moravam em outra cidade vinham para Prudentópolis pelo menos umas 4 vezes ao ano. Devido a isso, posso dizer que cresci brincando com minha prima, Carol. Éramos tão próximas quanto irmãs e nos divertíamos quando saíamos junto de minha mãe, de minha tia, e todos achavam que éramos irmãs.

Naquele fim de tarde de 1998, minha mãe nos deu uma missão. Era hora do café, e era necessário ir até a padaria mais próxima buscar o pão. Ela nos escalou para a tarefa, e nós nos sentimos as pessoas mais importantes do mundo.
Veja bem, na época eu tinha 9 anos e Carol 10. Há crianças que crescem brincando na rua, mas não era nosso caso, já que moro na rua de entrada da cidade, um local que costumava ser muito movimentado e perigoso, logo, para nós, ir até a padaria era uma missão digna de confiança. Somado ao fato de que estava quase escuro, embora não passassem das 18:30 da noite, tudo ficava mais emocionante.

Há uns 100 metros da minha casa, havia uma velha construção que tinha sido anos antes o Clube Social XII de Agosto.Naquele clube, os jovens mais bem abastados da cidade costumavam se divertir no final da década de 80 e começo da década de 90.
Ainda me lembro dos primeiros anos da década de 1990, quando nos sábados, as músicas começavam a tocar já no período da tarde e prosseguiam noite adentro. Além de Disco Music das décadas anteriores, as tardes e noites de sábado também eram embaladas por Eurythmics, Bonnie Tyler, Roxette e A-Ha. Não preciso dizer que toda vez que ouço essas bandas tenho explosões de nostalgia. Mas o velho clube, que tirava as noites de sono do meu avô, não durou muito tempo. Em 1995, foi desativado, e o local, em estado de degradação, acabou virando um acampamento de andarilhos e bêbados.

Naque noite, enquanto passávamos por frente do velho clube estranhamos o fato das luzes lá de dentro estarem acesas, o que era incomum. passamos olhando de olhos arregalados para a porta entreaberta, o que somado ao fato da rua ser bastante escura e cheia de becos entre construções, fazia tudo ficar mais macabro.

Mas apesar de tudo a ida correu tudo bem, e chegando até a padaria, compramos os pães e resolvemos ir embora. A volta implicava novamente em passar por frente do macabro clube - sobre o qual, naquela altura já tinhamos formado dezenas de teorias assombrosas.

Na volta, quando cautelosamente passávamos pelo velho clube que ainda tinha as luzes acessas, algum filho duma bacante que estava lá dentro se jogou contra a janela fechada fazendo com que vissemos somente sua silhueta grudada no vidro contra a luz. Não preciso dizer que corremos loucamente como se não houvesse amanhã até chegar à supostamente segura esquina.

Quando mal podendo respirar esperávamos para atravessar a esquina, um carro preto para perto de nós. Provavelmente algum maluco pedindo informações, mas bancando as antipáticas ou não, o instinto de sobrevivência dentro de nós fez com que nossas canelas se colocassem em movimento novamente e corremos tanto que quase deixamos as próprias sombras pra trás.

Chegamos em casa e entregamos os pães, mas para nós tinha sido uma jornada muito maior que simplesmente ir a padaria.
Atormentadas pelas histórias do Velho do Saco desde bebês, a gente não pagava pra ver nada.

Um comentário:

Cris 'Barda' disse...

Mary, simplesmente adoro ler as coisas que você escreve.
Muito bacana essa aventura sua e de sua prima. Aposto que passaram por momentos de medo dignos do Tártaro.