quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Memórias...não felizes

E daí tinha aquela menina, quando eu estava no segundo ano do Ensino Médio.A chamarei aqui de J.Não éramos o que pudesse chamar de amigas.Conversávamos nas matanças de aula de educação física.Tirávamos sarro juntas de uma certa figura da sala. Éramos apenas colegas de classe.
Na verdade ela era bastante amiga de uma amiga minha.Do tipo que vai na casa uma da outra todo dia.E provavelmente foi dali que lembro de tê-la conhecido.
Vivia machucada.A mãe era doente, mas era a única que mantinha alguma ordem familiar.Um dos irmãos era um trabalhador honesto, outro estava a caminho da decadência e o terceiro já havia caído no envolvimento com traficantes.Mas ela sempre estivera de cara limpa. A J. que eu conhecia, apesar da doença da mãe, apesar de passar a maior parte do ano com uma perna engessada, normalmente tinha um sorriso.Um sorriso estranho, meio triste, mas um sorriso, porque ali, no colégio, ela era apenas uma menina normal que tinha seu grupo de amigas.
No ano seguinte ainda estudávamos juntas. Mais ou menos no meio daquele ano, a mãe de J. havia falecido. Lembro-me de ficar espantada com a frieza com que J. falava do assunto, raramente demonstrando alguma emoção. A vida sem dúvida estava deixando algumas marcas profundas nela.
Pouco tempo depois ela começara a namorar com um amigo de um dos irmãos. Provavelmente do irmão mais problemático, porque até onde fiquei sabendo, o rapaz não era dos melhores, mas ainda assim parecia ser a única fonte da rara felicidade de J.
No final do ano ficamos sabendo que ela teve de começar a trabalhar para poder pagar as dívidas que o irmão tinha com traficantes, ou melhor, que OS irmãos tinham, porque aquele que estava a caminho da decadência, já havia chegado nela.
O ano acabou.Eu fui para faculdade, e perdi contato com a maior parte das pessoas com quem estudei no ensino médio - salvo pelas minhas amigas verdadeiras - .Eu nunca mais soube o que havia acontecido com J. mas esperava que as coisas se ajeitassem e ela pudesse achar algum rapaz que a fizesse feliz.
Semana passada, eu já de férias, fiquei uma tarde toda em casa.A mulher que trabalha aqui como diarista tem um caráter muito digno, exceto pelo fato de ser um jornal falado. Por ela é possível saber de todos os babados da cidade, mesmo não se colocando o pé na rua. Mas além dos babados, há também as notícias tristes. Nesse diz ela veio contando que a filha da velha D. estava "enjaulada" por porte de drogas e prostituição. Levou alguns minutos, para que eu, chocada, ligasse os fatos e percebesse que a filha da velha D. era na verdade minha ex-colega J.
Presa. Por porte de drogas.E Prostituição.
Oh Deus, para onde foram os sonhos que os adolescentes da minha geração alimentaram um dia?
É triste ver o quão perigoso pode se tornar o livre-arbítrio e o quão cruel pode ser o Destino.

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