quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Memórias...neutras ou...

Um opressor só vai te oprimir se você permitir.

Vai parecer uma história bobinha. Tão boba que nem sei se chegarei ao final desse post.
E daí tinha aquela menina, do tempo em que eu cursava o segundo ano do Ensino Médio.Ela havia chegado alguns meses depois do início do ano letivo.Vinha "das colônias".
Uma das coisas que mais chamava a atenção nela, além de sua sempre presente CARRANCA era seu tamanho, uma vez que enquanto a média de altura das meninas da sala parava pelo 1,75 no máximo, essa menina, que chamarei aqui de M., devia ter bem seus 1,85, fora o porte avantajado.
Uma atitude que condeno é bulying, e pode-se dizer que de alguma forma M., no começo de sua socialização na escola, sofreu um pouco disso principalmente por parte dos meninos. Talvez por seu tamanho avantajado, talvez pela sua cara sempre fechada, talvez pelos seus trejeitos interioranos. A questão é que aos 16 e 17 anos, supostamente adolescentes deviam ter maturidade, mas não têm.
Agora, uma coisa é aquela pessoa tímida, acuada, com dificuldades de socialização ser vítima de bulying.Chega a ser uma covardia. Outra coisa é uma pessoa pedir por isso através do seu comportamento. A questão não se tratava mais dos trejeitos desengonçados de M., mas a falta de senso de rídiculo que aquele bebê gigante de 17 tinha. Uma necessidade desesperada de ser "pop". Se sobressair na sala. Ser o gás da Coca. Impor a presença. E desafiar professores. O pobre do Mr. Goose ( espero que ninguém entenda esse trocadilho feito pra preservar a identidade do homem) que o diga após quase ter sentido as mãos esmagadoras de M., em seu fino pescoço, ato decorrente de uma prova zerada.
O fato é M. percebeu logo que a maioria do povo ali tinha medo dela. Porque ela era grande, mau encarada e não tinha medo de advertências ou suspensões. Os meninos e meninas a provocavam eventualmente, mas só se estivessem bem longe e pudessem correr.Ela nunca havia batido em ninguém até o momento, mas ninguém parecia querer conferir se ela faria isso mesmo.
Eu, pessoalmente, nunca tive medo dela, mesmo ela tendo o dobro do meu tamanho. Nossa convicência sempre foi neutra, mal nos falávamos.O mesmo não se podia dizer da convivência dela e da loirinha, minha melhor amiga. B., é pessoa com uma tendência a mexer com os outros, diferente de quando era criança.Há três anos, assim como hoje, ela não pode ver uma pessoa nova sem parar pra entender essa pessoa e poder se divertir um pouco descobrindo algum ponto pra zoar. Com M. não foi diferente e logo o humor nada favorável dessa menina fez com que minha amiga B. resolvesse puxar conversa com ela e desmontar um pouco daquele mito.
Para M., conversa não era bem vinda. Isso bastou pra que isso instalasse um clima de rixas diárias entre ambas, o que B. levava na mais completa zoação e M., na mais completa seriedade. Não foram uma nem duas vezes em que ambas passaram pela escola toda numa perseguição maluca como duas crianças do ensino primário.
Isso se prolongou por mais de um ano e meio, no qual B. achou uma parceira para sua batalha épica contra M., uma outra amiga minha, a A.
E um dia B., que tinha como costume fazer caricaturas de pessoas da sala, teve a bela idéia de fazer uma caricatura de nossa colega mal encarada, o que não foi nada bem recebido pela mesma.
Sucedeu que desde as 8 da manhã até 11:30 elas ainda estavam se encrencando, M. afirmando categoricamente que dessa vez arrebentaria B. na saída.
Na hora da saída foi um caso crítico. Comos seguíamos por umas duas quadras juntas na hora de ir embora, eu sempre acompanhava B. Naquele dia ela foi se esgueirando pelos caminhos menos movimentados da escola, até sair na rua. E dar de cara com M. no portão. Ambas arregalaram os olhos, B. queria correr mas não podia, devido a aglomeração de pessoas. Então optou por andar "calmamente", embora qualquer um pudesse dizer que ela estava muito tensa.
Logo M. apareceu com sua conhecida carranca e punhos cerrados.

- Fugindo?
- Indo embora.

E eu ali do lado, com a maior cara de -.-''
Aquilo vinha se tornando entendiante, e estava ficando realmente dificil de aguentar tamanha frescura.
Resmunguei algo como "Que coisa ridícula", o que foi o suficiente pra voltar a fúria de M. para mim.

- E você quer apanhar também?
Ela perguntou levantando o punho em sinal de ameaça.
Meus outros colegas teriam prontamente dito que não, se esquivado, ou fugido.Por que eles tinham medo dela.Eles deixaram ela se tornar o que ela havia se tornado. O medo deles eram muito maior que a coragem dela.

-Por que você não deixa de ser um bebezão ridículo e cresce?Você alimenta a ilusão que todos têm medo de você, faz tudo pra chamar a atenção, acha que manda nessa porcaria de escola. Amadureça menina. - Eu disse e olhei pra ela por alguns segundos.

Havia algumas pessoas da minha sala em volta que deram alguns gritos não inteligíveis e assobios ridicularizando-a.
Ela me encarou, claramente não sabendo o que dizer. Eu sabia que M. nunca bateira em ninguém. Boa parte daquele pessoal também sabia, mas haviam esquecido desse detalhe porque a racionalidade havia sumido claramente.
Eu segui meu caminho acompanhada de B. sem parar pra saber de M. diria algo ou ficaria parada perto daquele muro por mais tempo.
Não sei o que se sucedeu depois, porque fui embora.
Mas no dia seguinte M. não parecia mais tão mal encarada.O tempo passou.O ano acabou.Nunca mais a vi.

Nenhum comentário: