domingo, 19 de outubro de 2008

Falling into pieces

A cabeça pesa.Gira.E o chão parece ter sumido.Aliás, ele sumiu já faz algum tempo, mas eu esqueci de cair.Algo dizia que eu tinha que ir em frente e assim eu fiz.Não que restasse alguma emoção que alimentasse essa tarefa diária de ir em frente.Era uma questão puramente existencial.Estar ali porque haviam coisas por si, que exigiam que eu estivesse.
Em dois momentos ou três, parecia melhorar.Mas era uma miragem.Como se tivesse ficado muito tempo exposto ao sol e se vê aquele oásis que supostamente dará fim a esse tormento, a esse sofrimento.Mas no fundo era apenas uma ilusão.Uma ilusão estúpida que só conseguiu piorar tudo.
Por que não apenas ser normal e tentar sacudir a poeira como qualquer outro teria feito?Chutar o balde, ir em frente, o mundo e o passado - ah o passado - que se danem.
Por algum tempo isso funcionou.Aí virou um relógio de giros infinitos.Uma bomba relógio.Um tic tac constante, agonizante.

Quando vai explodir?A perspectiva de que não vai explodir é o pior.Tomado de uma passividade mórbida.
A negação costumava ser um analgésico eficiente.Do qual fui privada.Falling into pieces.

O medo.Medo de em 10 anos desenhar no vapor da janela mais uma vez e perceber o quão miserável me sentirei por ainda não ter saído da poeira.
Medo de escutar os barulhos da cidade enquanto vejo um raio do sol poente entrar pela fresta da cortina, sendo a única luz naquele quarto solitário e escuro.
Medo de andar pelas ruas vendo todos apreciando os frutos que conseguiram colher, enquanto se reflete que se foi fraco demais para semear o próprio futuro.
O que é um fantasma?Eu sou um fantasma.Você é um fantasma, que me aterroriza.O passado é um fantasma.E o futuro é um fantasma mais assustador ainda porque você, fantasma, não estará nele.O presente é um fantasma com qual tenho que conviver.Um monstro no armário, que bate, faz barulho, incomoda, mas tem de se aguentar.
Para onde foram os sonhos que costumavam ficar aqui?Falling into pieces.
Quebrados?Reduzidos a meros cacos?É permitido sonhar?Ou esse é um privilégio dos fortes?Ou um passatempo dos fracos, que apenas sonham, mas não vivem?Uma ilusão?Isso é Illusia.Deve ser apenas uma ilusão.Quando eu voltar da viagem, haverá chão.Haverá coragem.Serei forte.Serei?
Ilusão.Minha ilusão.Eu não permito que haja essa corrida contra as horas na minha ilusão.
Lá eu tenho uma vida.Lá, eu plantei um futuro e o vivo agora.Mas é apenas minha ilusão.Como um sonho cinza, preso numa redoma, que está ali pra lembrar que o protagonista dele, poderia ter sido eu.

Um comentário:

Déh disse...

O Anjo. Queria ser eu a te mostrar que por de trás das cortinas fechadas do quarto escuro onde estais, brilha o mais lindo dia de toda sua vida. Que dentro dos armários não existem monstros e que a vida e seu futuro te aguardam e que você ainda tem muito a realizar. No entanto só posso oferecer-lhe os meus ombros para que possas chorar, os meus braços e pernas para te carregar até que enfim você possa caminhar sozinha pela estrada que escolheu. Afinal amigos servem para isso. Mesmo os amigos que tão distantes estão.